Sinopse
Quando Campanella escreveu A cidade do sol, em 1602, o gênero utópico já estava criado havia quase um século. Obra bastante peculiar, não tecia críticas nem satirizava os poderosos, não propunha modelos nem visava persuadir: via-se como algo superior a isso, como a previsão científica de um evento certo, destinado irremediavelmente a acontecer. Ao que parece, Campanella pretendia submeter a expressão da fé aos postulados da revolução científica, invertendo toda a sua lógica. Complexo sistema que junta racionalidade científica e irracionalidade profética, no seu jogo de espelho e luzes, de crítica e defesa da Igreja, trata-se da mais barroca das utopias seiscentistas, em que a mentalidade mais moderna e o tradicionalismo religioso não se excluem, mas se somam numa simbiose particular, que traduz de modo originalíssimo as ambiguidades da política e da cultura da Contrarreforma.